quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Meus avós maternos


Estes é meu avô materno. Manoel Muniz de Almeida Junior.
Nasceu em 1898, na cidade de Caravelas, sul da Bahia. Desde muito cedo, devido ao falecimento de sua mãe, e ausência física de seu pai, tomou para si as rédeas da casa, que incluía cuidar da educação e proteção dos irmãos mais novos e das moças que ainda não haviam casado. Trabalhava na Estrada de Ferro Bahia Minas como escrevente (desativada ainda em sua época).
Somente após o casamento da última irmã, é que  então casou-se com minha avó.
Segundo minha mãe, era um homem muito religioso, dedicado marido e pai. Possuía alguns imóveis na cidade, o que garantia a sua família uma vida tranquila porém sem excessos. Na cidade todos o conheciam, por ser uma pessoa prestativa, capaz de desfazer-se de algo por alguem que necessitava de ajuda. Por isso, não foi capaz de acumular riquezas. Era um homem que apreciava a leitura, o futebol, os piqueniques, o carnaval e  um  profundo admirador do então Presidente Getúlio Vargas, a quem escreveu inúmeras cartas, que não foram respondidas.
Por conta de uma doença adquirida quando jovem, e que por não ser tratada devidamente, teve o seu cérebro atingido, dando início a crises periódicas, que o levava a beira da loucura.  Em uma de suas últimas crises, foi transportado para o Rio de Janeiro, onde ficou internado numa clínica psiquiatrica, vindo a falecer em 1975 vitima de uma pneumonia.
Toda esta trajetória tão difícil, não apagou a lembrança de um homem bom, de um avô que passeava com os netos; que lia sentado no sofá com as pernas trançadas; que amava a sua pequena Ciloca (minha avó).


Esta é minha avó materna. Dercilia Siquara Muniz
Nasceu em 1900 em Caravelas sul da Bahia. É a filha mais nova (temporão). Quando nasceu Ernesta tinha 15 anos e a Maria havia morrido ao dar a luz um menino que foi criado junto com ela. Aos 5 anos perdeu seu pai, foi criada pela mãe e Ernesta. Dona Caetana (sua mãe) era muito rigorosa. Naquele tempo, as moças não saiam sozinhas, por isso seu namoro com meu avô era muito sutil. Dona Caetana não queria o casamento dela com meu avô, porque o pai dele era um homem muito brigão, então ela achava que toda família também era assim.
Mesmo contra sua oposição casaram-se, e tiveram 3 filhos.
A vida nem sempre lhe foi muito agradável. Logo meu avô passou a ter as crises, teve que se aposentar por invalidez, com um salário muito pequeno, e nestes períodos as dificuldades aumentavam. Precisou então dedicar-se a fazer doce para vender. Eram deliciosas cocadas de coco verde, beijinhos de coco (cortadas rigorosamente do mesmo tamanho), e bolos dos mais variados. Trabalhou durante muito tempo diante de um fogão a lenha para fazer seus quitutes. Torrava café para vender. 
Era uma mulher pequena mas de muita fibra, visto que criou e educou os filhos, compartilhando lado a lado com seu marido as despesas da casa.

Durante quase toda sua vida, se viu as volta com uma doença que era contrastante com sua atividade. Era diabética. Como fazer doces para ajudar a manutenção da casa, se não podia comê-los? É difícil. Mas ela conseguiu. 
Quando idosa teve sua visão prejudicada, e o canal de lágrimas dos seus olhos secaram. Com isso não podia extravasar seus sentimentos. Foi o que ocorreu quando meu avô morreu. Nesta ocasião ela disse "nem chorar mais eu posso".
Durante muito tempo minha mãe cuidou dela, até que a doença se agravou e teve que ser internada, vindo a falecer em 1978.
Beijos para meus queridos avos, que carinhosamente chamávamos de voinho e voinha.

Esta foto mostra a família: Meu avô, minha avó, minha mãe (vestido branco) que nasceu em 1928, meu tio Hugo nascido em 1930 e minha tia Ruth nascida em 1932.
Meu tio casou-se com Iara e tem duas filhas,Jaqueline e Valeria. Tia Ruth casou-se com Oswaldo Lex e teve 3 filhos, Ivanita, Waldir e Marcia. Minha tia faleceu em 2004. Meu tio Hugo faleceu em 2013

                                                        

ONDE TUDO COMEÇOU

Henrique Jorge Siquara — O homem que deu origem a um nome e a uma história

Esta é a imagem de Henrique Jorge Siquara, meu bisavô — um homem cuja presença atravessa o tempo e chega até nós como símbolo de coragem, fé e propósito.

Nascido em Portugal, Henrique Jorge veio para o Brasil com sua família, fixando-se em Caravelas, na Bahia, em tempos de grandes travessias e esperanças. Lá, construiu uma nova vida ao lado de Caetana, sua esposa, com quem teve três filhas: Maria, Ernesta e Hercília — esta última, minha querida avó.

Conta-se que, ao chegar ao Brasil, ele adotou o nome “Siquara”, inspirado na expressão latina “Si quaeris miracula”, que significa “Se procuras milagres”. Ele cantava na novena de Santo Antônio, “Siquara miracula”, os amigos passaram a chama-lo Siquara, ele resolveu então anexar esta palavra ao seu  sobrenome.

E um nome de família ímpar,

Um nome nascido da fé e da devoção, que se transformou em um legado — um símbolo da força espiritual e da busca por sentido que sempre marcaram nossa família.

Na fotografia, vemos um homem de olhar firme e sereno, trajando terno e colete, com a postura digna de quem soube equilibrar trabalho e valores. Seu semblante carrega o espírito de quem acreditava na importância da palavra, da honra e da fé — virtudes que atravessaram gerações e continuam vivas entre nós, seus descendentes.

Hoje, ao olhar para esta imagem, sinto que não vejo apenas o meu bisavô, mas o início de uma linhagem. Um homem que trouxe consigo um nome raro e uma história única — que agora seguimos contando, com gratidão e orgulho.

Henrique Jorge Siquara: aquele que, em busca de milagres, acabou sendo um deles.