Adriano Miranda
Adriano Miranda nasceu em
1924, na pequena cidade de Tai, próxima a Campos dos Goytacazes, no estado do
Rio de Janeiro. Ainda jovem, mudou-se com a família para São João da Barra,
onde passou boa parte da infância e juventude.
Desde cedo mostrou-se
trabalhador e responsável. Quando rapazinho, cortava palha para a fábrica de
conhaque — o dinheiro que ganhava ajudava nas despesas de casa e também servia
para comprar roupas novas, pois gostava muito de se arrumar para os bailes da
cidade. Seu pai não gostava que ele fosse, mas Adriano, cheio de alegria e
vontade de viver, pulava a janela e ia dançar.
Com o passar dos anos, chegou
a época de se alistar para o serviço militar. Veio com dois irmãos para o
alistamento, mas, como foram dispensados, os irmãos voltaram para casa,
enquanto ele permaneceu em Niterói, hospedado na casa de uma tia. Ali começou uma
nova fase de sua vida. Trabalhou primeiro em uma fábrica de água sanitária, e
depois conseguiu emprego em uma empresa de navegação, onde atuava como
conferente de carga.
Seu trabalho o levava a
diferentes lugares do Brasil. Em uma dessas viagens, ao chegar à cidade de
Caravelas, na Bahia, para descarregar o navio, conheceu aquela que seria o
grande amor de sua vida — Tereza de Jesus Siquara Muniz. Apaixonou-se e decidiu
ficar. Casaram-se, e logo tiveram seu primeiro filho, Carlos Roberto, que
infelizmente nasceu sem vida devido a complicações no parto. O sofrimento foi
imenso. Adriano ficou tão abalado que pediu a alguém que fotografasse o bebê,
seu primogênito, um menino muito bonitos, para que nunca se esquecesse dele.
Com o tempo, a dor deu lugar a
novos sorrisos. O casal foi abençoado com mais seis filhos: Terezinha, Adriene,
Antônio Carlos, Maria de Lurdes, Antônio José e Gil. Adriano era um homem
dedicado, que amava profundamente a esposa e os filhos. Embora às vezes fosse
um pouco severo, sua maior preocupação sempre foi o bem-estar da família.
Trabalhou a vida inteira, com
firmeza e dignidade. Ainda jovem adulto, começou a sentir tremores nas mãos,
que mais tarde foram diagnosticados como Mal de Parkinson. A doença,
progressiva e cruel, o acompanhou por muitos anos. No fim da vida, já não conseguia
mais engolir os alimentos, pois a musculatura da garganta havia enrijecido. Uma
pneumonia o acometeu, e, em 2008, Adriano Miranda despediu-se desta vida.
Deixou um legado de amor,
trabalho e coragem. Um homem simples, que veio de longe, lutou, formou sua
família e marcou profundamente a história da queles que tiveram o privilégio de
conhecê-lo e amá-lo.
Esta é minha mãe, Tereza de
Jesus Muniz Miranda, nasceu em Caravelas sul da Bahia, em 16/09/1928. Sua
história é muito alegre, porque ela é uma pessoa que está sempre de bem com a
vida. Teve seus momentos de dificuldade, como todo mundo, mas consegue superar
e transmitir para todos que a rodeiam uma harmoniosa alegria de viver, de ser
feliz e principalmente de fazer o bem e trazer felicidade.
Uma jovem inteligente,
habilidosa em trabalhos manuais, cedo começou a aprender a costurar com sua tia
Dona.
Muito católica, como seu pai,
fazia parte do coro da igreja e de todas as festas religiosas.
Aproveitou intensamente sua juventude, gostava de dançar, pular carnaval, fazer
piquenique, tomar banho de mar e ribeiro (ribeiro é um pequeno córrego de água
doce), namorar então nem se fala. Como era muito bonita e alegre, chamava
atenção de todos, inclusive, é claro, de meu pai, que veio de fora
e teve o privilégio de se apaixonar por ela. Os outros rapazes,
filhos de fazendeiros, ficaram, como ela costuma expressar "no ora
veja".
Casou-se com Adriano Miranda, meu pai. Perdeu seu primeiro filho, num parto
complicado que quase a levou também.
Mas sua aventura na vida tinha
que continuar para colocar no mundo mais seis filhos.
Como meu pai ficou
desempregado em Caravelas, voltou para o Rio de Janeiro e tempos depois mandou
busca-la.
Chegou ao Rio com os quatro primeiros filhos, foi morar em Caxias, numa casa de
vila. Desde então sua vida foi muito sacrificante. Carregou muita água;
mesmo sem conhecer direito a cidade, era ela que levava os filhos para médico;
via escola; cuidava da casa e ainda costurava para uma fábrica.
Filhos criados, quando poderia descansar, meu pai adoeceu e durante mais de 10
anos, foi ela quem cuidou dele, e o fez com muita dedicação e amor.
É num mundo de recordações, dos tempos vividos na sua cidade, do amor pelo
meu pai, da lembrança dos filhos pequenos, que leva sua vida, além de fazer
crochê, ponto de cruz e palavras cruzadas. Lembra com detalhes de tudo, e
é um prazer ouvi-la contar suas histórias.